30 de abril de 2008

Linguagem e Neurociências: Carl Wernicke

Aproximadamente na mesma época, em 1874, o neurologista alemão Carl Wernicke (1848-1905) descobriu uma área similar no lobo temporal esquerda, entre o córtex auditivo e o giro angular, que lesionada também ocasionaria déficit sensorial na linguagem. Isto é, o paciente seria incapaz de reconhecer palavras faladas, mesmo se a audição estivesse intacta.

Wernicke e outros pesquisadores acreditavam que essa área, posteriormente chamada de área de Wernicke (ver figura abaixo), teria interconexões pelo sistema de fibras da área de Broca, formando um sistema complexo responsável pela compreensão e pela fala.


No modelo proposto por Wernicke, a área de broca estaria ligada aos programas motores da fala (memórias dos movimentos necessários para expressar fonemas e compô-los em palavras e em frases). Já a área de Wernicke estaria relacionada a memória dos sons que compõem as palavras, o que possibilitaria a identificação das mesmas.


Pacientes com lesão na área de Wernicke, apresentam afasia de Wernicke (demonstrado no vídeo do YouTube), isto é, perda da compreensão da linguagem – a fala é fluente, gramatical, porém, sem significado.




Para saber mais:
http://www.icb.ufmg.br/fib/neurofib/NeuroMed/introduc.htm
http://www.nead.unama.br/site/bibdigital/pdf/artigos_revistas/103.pdf

Imagem:
http://www.timeenoughforlove.org/images/wern.jpg

29 de abril de 2008

Linguagem e Neurociências: Paul Broca

Em 1861, ainda influenciado pelo médico Boulliaud e o movimento frenologista, Pierre Paul Broca (1824-1880), neurologista francês, acreditava no princípio da localização, realizando muitas pesquisas com seus pacientes.

No ano de 1863, Broca publica um artigo com pesquisas de oito pacientes, nos quais a linguagem estaria comprometida por lesão no lobo frontal do hemisfério esquerdo. Já em 1864, devido muitos casos parecidos, juntamente com fala não comprometida por lesões no hemisfério direito, fez com que a expressão da linguagem fosse designada ao hemisfério esquerdo.


Broca em um de seus trabalhos, estudou o cérebro de um paciente que era incapaz de falar, que só conseguia dizer as palavras “tan tan”. Este paciente não podia escrever, mas indicava onde era sua dificuldade através de gestos.
Outro paciente chamado Lelong, não lia nem escrevia, porém comunicava-se por gestos. Após a morte de ambos pacientes, Broca verificou que no cérebro do primeiro havia uma atrofia da primeira circunvolução frontal esquerda. Além disso, ambos os pacientes apresentavam uma perda na terceira circunvolução frontal esquerda.


A partir dos casos que Broca atendeu, pôde concluir que o centro do controle da fala estaria situado na parte posterior da terceira circunvolução frontal. Esta parte do cérebro se tornou conhecida como área de Broca (ver figura abaixo), que é responsável pelo centro da fala.

Sujeitos com lesão nesta área apresentam perda da expressão da linguagem, o que denominamos de afasia de Broca (demonstrado no vídeo do YouTube).



Para saber mais:

Andrade, V.M.; Santos, F.H. E Bueno, O.F. Neuropsicologia Hoje. São Paulo: Artes Médicas, 2004.

Bear, M.F.; Connors, B.W. e Paradiso, M.A. Neurociências: Desvendando o Sistema Nervoso. Porto Alegre: Artmed, 2002.


Imagem:

http://faculty.washington.edu/chudler/gif/broca.jpg

28 de abril de 2008

Linguagem e Neurociências: Frenologia

No final do século XVIII – século do iluminismo - o conhecimento sobre o cérebro e suas respectivas funções era praticamente desconhecido e dominado por muitas especulações e hipóteses. Grande parte de seu conhecimento advinha das dissecações feitas em animais e seres humanos mortos.

A frenologia, desenvolvida por um médico Franz Joseph Gall (1758-1828), anatomista e um dos primeiros a ilustrar as circunvoluções corticais. Ele acreditava que o cérebro seria uma máquina sofisticada que seria capaz de produzir pensamento, comportamento e emoção, onde na verdade, seria constituído por uma grande justaposição de órgãos. O fato de existirem muitas estruturas anatômicas com formatos variados, fez com que se pensasse em faculdades mentais responsáveis por cada uma dessas estruturas.

Gall postulou 27 faculdades “intelectuais e afetivas”, que se localizavam em órgãos específicos do córtex, onde quanto maior seu tamanho, maior seria o desenvolvimento de tal faculdade mental, causando protuberâncias nas partes do crânio.

Uma das funções estudadas por Gall foi a linguagem, especificamente a linguagem falada, que segundo ele, tinha sua sede num órgão sediado no lobo frontal (Ver Gall, 1796 e Combe, 1840).

Na continuação dada a esta corrente, Jean-Baptiste Boulliaud (1796-1881) afirmava que a linguagem falada tinha sede nos órgãos anteriores do cérebro e que por isso, os considerava como o “órgão legislador da palavra”. A partir deste pensamento, convidou Pierre Paul Broca (1824-1880) para testar a hipótese da perda de linguagem na seqüência da lesão do órgão que a produzia.


Para saber mais:
Caldas, A. C. A herança de Franz Joseph Gall. O cérebro ao serviço do comportamento humano, Lisboa, McGraw-Hill, 2000.

Schultz, D.P. & Schultz, S. E. História da Psicologia Moderna. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005.

Imagem:
http://www.uh.edu/engines/phrenologicalchart.jpg

27 de abril de 2008

Linguagem e Lateralização Hemisférica

Ao longo da história, fatos acerca do funcionamento biológico dos comportamentos no ser humano têm surgido, estando estritamente ligados ao conceito de lateralização hemisférica – diferenças de funções entre os dois hemisférios cerebrais.

No que diz respeito à lateralização hemisférica, atualmente, é aceito que o hemisfério dominante, o esquerdo na maioria dos indivíduos, mediaria os aspectos cognitivo-verbais, enquanto o hemisfério não-dominante, ou direito, mediaria os componentes relacionados à prosódia e afetivo-emocionais. Portanto, para que haja um bom funcionamento no processamento da linguagem deve haver uma integridade funcional de ambos os hemisférios.

Logo, para uma melhor compreensão da fenomenologia da linguagem, o estudo das localizações cerebrais e descrição dos mecanismos neurais tornam-se bem relevante.


Para saber mais:
Fuentes, D et al. Neuropsicologia : Teoria e Prática. Porto Alegre: Artmed, 2008.

Imagem: http://www.brasilescola.com/upload/e/lateralidade.jpg

22 de abril de 2008

Hipóteses Evolutivas

Para Chomsky (1968), a capacidade de se desenvolver a linguagem é em grande parte inata, o que o levou a introduzir o conceito de que o ser humano possui um programa neural específico, no qual o aprendizado da língua seria preparado por meio deste, utilizando um sistema de regras geneticamente determinado, uma gramática universal.

Sendo assim, aspectos universais da aquisição da linguagem seriam estabelecidos por essa estruturação inata do cérebro humano, que já estaria preparado para a aprendizagem e para a utilização da fala como forma eficiente de comunicação.

De acordo com Pinker (2004), o ser humano nasceria equipado com um conjunto de informações genéticas que direcionaria o seu desenvolvimento. Em cada indivíduo, a natureza humana, regida pela biologia, sofreria influência da sociedade e da cultura – e é da interação de ambas que resultaria a linguagem, a personalidade, a inteligência e o comportamento.

Pinker propõe que as culturas dependem de um conjunto de circuitos neurais responsáveis pela aprendizagem, que fundamentariam o comportamento das pessoas, permitindo-lhes serem membros competentes dessa mesma cultura que os influencia.

Para saber mais:

Chomsky, N. Language and the mind. Psychology Today, 1(9), 48-68, 1968.

Pinker, S. Tabula Rasa: A negação contemporânea da natureza humana. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

Imagem:
http://www.embaixadoresdoritmo.com.br/bebe%20lendo.jpg

15 de abril de 2008

A origem da linguagem: gestual e vocal

A origem da linguagem gestual e vocal pode ser explicar por algumas hipóteses. Uma hipótese seria que a linguagem gestual se deu a partir de um sistema de gestos manuais que foi utilizado quando um grupo de macacos, assumindo a posição ereta, passou a usar as mãos com a intenção de comunicação social.

Após esse primeiro momento, a comunicação vocal teria surgido naturalmente. Por outro lado, os teóricos que apóiam a hipótese vocal defendem o ponto de vista de que a linguagem evoluiu a partir de um conjunto de gritos que exprimiriam diversos estados emocionais.

A partir das alterações ocorridas nas estruturas estomatognáticas como lábios, dentes, mucosa oral, glândulas salivares) e na laringe, houve um maior controle na produção de sons, o que fez com que sua utilização sofresse uma gama de combinações, dando origem a diferentes sistemas de sons após a dispersão geográfica.

Outra hipótese para a origem da linguagem a ser pensada é especular que seu surgimento deveu-se pela evolução conjunta dos gestos e das vocalizações, o que explicaria a correlação entre o uso preferencial de uma das mãos – lateralidade – e a representação da linguagem verbal e gestual no hemisfério dominante (o esquerdo, para a maioria dos indivíduos).

Para saber mais:

Kandel, E.R.; Schwartz, J.H., Jessé, T.M. Fundamentos da neurociência e do comportamento. Rio de Janeiro: Prentice-Hall, 1997.

Kandel, E.R.; Schwartz, J.H., Jessé, T.M. Princípios da neurociência. Barueri: Manole, 2003.


Imagem:
http://www.ralysite.com.br/www.ultratempo.com.br/temo_moradias_tipos/evolucao_humana.jpg

14 de abril de 2008

A linguagem e o homem

A linguagem têm sido uma das funções mentais mais estudadas ao longo do tempo. É um meio de comunicação que é mais desenvolvido nos humanos que em outras espécies, sendo comum a diversas culturas. Também pode ser percebida como a capacidade de transformar idéias em palavras, gestos, sinais possibilitando a comunicação com o outro.

Por ser um instrumento de transmissão de informações, acaba permeando as relações entre pessoas, além de individualizar os pensamentos e as hipóteses que vão se ajustando gradualmente a contextos semântico-pragmáticos previamente estabelecidos.

A partir dela, novas combinações de idéias acabam surgindo, o que facilita a organização da experiência sensorial do indivíduo. Por meio dela, podemos expressar nossa identidade, pensamentos, sentimentos e expectativas, dando forma a eventos nos cérebros de outras pessoas.

A todo o momento, pessoas utilizam a linguagem criativamente para transmitir suas déias, diferenciando-se de outras formas de comunicação por meio da criatividade, forma, conteúdo e uso. A criatividade faz com que haja a criação de significado utilizando as regras gramaticais; já a forma, transforma conjuntos de sons e letras em conteúdo a serem emitidos em seqüências previsíveis; o conteúdo está relacionado à formação e comunicação de abstrações; e por fim, o uso como um instrumento para a comunicação social.

Para saber mais:

Kandel, E.R.; Schwartz, J.H., Jessé, T.M. Fundamentos da neurociência e do comportamento. Rio de Janeiro: Prentice-Hall, 1997.

Pinker, S. The language instinct: How the mind creates language. New York: Morrow, 1994.

Imagem:
http://www.flickr.com/photos/pilviman/2007770566/


12 de abril de 2008

Sobre Linguagem...

Como vimos anteriormente, para que a linguagem seja adquirida e construída no ser humano, é necessário que todas as vias perceptivas estejam em condições normais, caso contrário algumas falhas e dificuldades surgirão no decorrer do desenvolvimento.

Portanto, percebendo a relevância dessa função cognitiva, discorrerei um pouco mais sobre a linguagem em si, visto que a mesma encontra-se diretamente relacionada à questão da surdez.

A aproximação do tema será feita gradualmente conforme os objetivos e necessidades que forem surgindo. Questões referentes à sua aquisição numa perspectiva neuropsicológica, assim como, aspectos culturais e sociais pretendem ser brevemente abordados.

Imagem:

http://www.flickr.com/photos/21939803@N06/2116539810/

4 de abril de 2008

Qual a influência da perda auditiva no desenvolvimento da linguagem?

A identificação precoce das perdas auditivas é de extrema importância para o desenvolvimento da criança, especialmente de sua linguagem. Seus efeitos dependem da gravidade, idade de início e tratamento utilizado.

Crianças com perda auditiva leve não ouvem quando uma pessoa lhes dirige a palavra com um tom de voz fraco ou distante. Além disso, não percebem todos os fonemas da palavra de maneira equiparada. Como conseqüência, essa perda pode causar um problema articulatório ou uma dificuldade na leitura e/ou escrita. Entretanto, a aquisição normal da linguagem não fica prejudicada.

Crianças com perda auditiva moderada encontram-se no limiar da percepção da palavra, sendo necessário que o tom de voz seja aumentado para que haja uma percepção do mesmo. Neste caso, são observados atraso na linguagem e alterações articulatórias, podendo haver problemas lingüísticos. De uma maneira geral, a criança identifica as palavras mais significativas, possuindo mais dificuldade na compreensão de alguns termos de relação ou frases gramaticamente complexas.

Crianças com perda auditiva severa possuem grande dificuldade em perceber a voz, identificando apenas alguns ruídos familiares, podendo chegar aos cinco anos sem saber falar. Nessas crianças, a compreensão verbal dependerá da aptidão de se utilizar a percepção visual, além de observar o contexto da situação.

Crianças com perda auditiva profunda não reconhecem a voz humana, o que as impede de adquirir a linguagem oral como as outras. As alterações dessa perda estão relacionadas à estrutura acústica e à identificação simbólica da linguagem.

O processo de construção e aquisição de linguagem oral de uma criança surda requer muito empenho. Ao nascer, um bebê surdo produz os mesmos sons que um bebê com audição normal, entretanto, como não há uma estimulação auditiva do meio, não adquire a fala como um instrumento de comunicação, já que o mesmo não possui um modelo para dirigir suas emissões sonoras. Por isso, é necessário que todas as vias perceptivas sejam estimuladas, complementando a audição prejudicada, para que a criança compreenda a linguagem e aprenda a se expressar.

Para saber mais:

Azevedo, M e cols. Desenvolvimento auditivo de crianças normais e de alto risco. São Paulo: Plexus, 1995.

Goldfeld, M. A criança surda: linguagem e cognição numa perspectiva sócio-interacionista. São Paulo: Plexus, 1997.

Imagem:

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